No final do segundo trimestre de 2021 o rumor de um antigo fantasma retorna depois de duas décadas, para assombrar a vida do brasileiro, o RACIONAMENTO de energia. Compreendendo os meses secos do ano de 2001, foi um tempestuoso período em que a sociedade foi forçada a economizar energia. A meta era que todos os consumidores reduzissem em 20% o seu consumo de forma compulsória, além do considerável aumento nas contas de luz, havia a ameaça de corte de energia em caso de a meta não ser cumprida.
O ano de 2021 relembrou os anos de 2001, muito pelos níveis do reservatório, conforme a Figura 1 nos encontramos no mesmo patamar de energia armazenada para o mesmo mês em 2001. Energia armazenada nada mais é do que a capacidade de produção de eletricidade, para o volume hídrico represado em todas as usinas hidrelétricas do país.

Figura 1 – Dados retirados do banco mundial e ONS.
Avaliar a Energia armazenada é muito importante pois como a matriz energética brasileira é baseada na geração hidroelétrica, a disponibilidade deste recurso baliza os preços da eletricidade no país. O fato de os níveis dos reservatórios estarem nos mesmos patamares dos anos de 2001 assusta, porém o risco de racionamento já foi descartado pela ONS (Operador Nacional do Sistema).
Setor elétrico 20 anos depois
O setor elétrico sofreu muitas mudanças desde 2001 até 2021, hoje a matriz energética nacional se encontra muito mais preparada para enfrentar o problema. A figura 2 apresenta o sistema interligado nacional (SIN), um emaranhado de linhas de transmissão que conectam consumidores a produtores de energia, ao longo de todo o país.
A figura abaixo demonstra o crescimento do SIN ao longo dos anos, esta é uma informação importante pois o Brasil é um país de extensão continental, ou seja, existe uma variedade de climas neste país. Em outras palavras, apesar das bacias mais importantes para a produção de energia estarem passando por um período de seca, existem outras zonas climáticas com uma disponibilidade maior de água e vento. Hoje o SIN pode distribuir melhor esta comodity ao longo de todo o território nacional.

Figura 2 – Escassez hídrica e o fornecimento de energia elétrica no Brasil, MME 2021.
A matriz energética do país também sofre transformação. Em 2001 o Brasil dependia exclusivamente da produção hidroelétrica e térmica, atualmente a matriz energética agrega a geração eólica solar e biomassa. Além disso foi criado a figura do produtor independente de energia, autoprodutor e geração distribuída, que tem como objetivo estimular a produção de energia por parte do próprio consumidor.

Figura 3 – Escassez hídrica e o fornecimento de energia elétrica no Brasil, MME 2021.
A potência instalada, que é a capacidade de produção de energia, mais que dobrou no país ao longo de 20 anos. A maior probabilidade é de que a sociedade tenha que pagar mais caro pela comodity. Outro ponto de atenção é para relação entre PIB e consumo energético, esta é a maior causa de preocupações conforme afirma o meteorologista Rodrigo Azambuja, integrante da Gerência Executiva de Preços, Modelo e Estudos Energéticos da CCEE.
Origem das suspeitas
O Sr Rodrigo Azambuja, declarou no Podcast Interligados (Spotfy, 02 de Julho de 2021), que o cenário econômico deve mudar a relação de consumo da sociedade. Segundo o técnico caso o Brasil cresça 5% este ano poderemos ter elevação nos preços em 2021 e possivelmente problemas para o próximo ano.
A relação entre PIB e consumo é direta e proporcional, quanto mais desenvolvimento e maior atividade da indústria e serviços, mais energia a sociedade demanda. Esta relação pode ser observada no gráfico abaixo, a linha azul representa o crescimento da demanda média de energia, enquanto a linha laranja representa o crescimento do PIB.

Figura 4 – Dados retirados do banco mundial e ONS.
A influência entre consumo e energia é evidenciado através da figura 4. Quase que em todas as situações a linha de crescimento de PIB se entrelaça ao crescimento da demanda média. Baseado nas informações acima, para um crescimento de 5% do PIB projetado em 2021 é possível que a demanda média cresça em 4%, o que colocaria a demanda média nos patamares dos anos de 2009, mas com uma reserva energética equivalente ao de 2001.
Portanto para o ano de 2021 podemos esperar aumento dos preços nas contas de luz, que já estão acontecendo e uma frágil segurança energética, todavia o setor elétrico deve se adequar. A recomendação é da criação de novos leilões de energia, além da importação da comodity vinda do Uruguai e Argentina.
ONS diz que medidas do governo garantem energia em 2021 e descarta racionamento… – Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2021/06/05/ons-diz-que-medidas-do-governo-garantem-energia-em-2021-e-descarta-racionamento.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola
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