Entendendo a crise hídrica de 2021.
O sistema elétrico brasileiro foi planejado com uma serie de garantias físicas e interligações que fornecem um certo grau de segurança para a sociedade. A matriz energética do país é baseada no recurso renovável de melhor custo-benefício que temos disponível hoje, a produção hídrica que apesar dos reveses, consegue englobar em uma única solução escalabilidade, preço, e a não dependência de combustíveis fósseis.
O gráfico abaixo apresenta o ciclo hídrico em uma região no Paraná, que compreende uma das bacias hidrográficas que mais contribuem para a produção energética do país. Observe que apesar do mês de janeiro ter recebido um volume de precipitações acima do normal, no restante dos dois primeiros trimestres observamos uma quantidade abaixo da média de precipitações.

Figura 1 – Regime de precipitações no Paraná INPE 2021.
A Figura 1 ilustra o que já ocorre em diversas partes do país, possivelmente uma escassez hídrica, que teria como principais consequências a elevação dos custos de energia e saneamento, pago pelos brasileiros. O aumento no valor da energia acontece pois, com a redução da disponibilidade de recurso hidroelétrico, faz-se necessário utilizar as usinas térmicas, com seu elevado preço por quilowatt-hora, para suprir o sistema.
Nos últimos 10 anos a energia armazenada, que seria basicamente a capacidade energética do volume de água armazenado em todas as hidroelétricas brasileiras têm diminuído. A Figura 2 representa a relação entre o potencial energético no mês de junho e o PIB brasileiro. A partir do ano de 2008 pode-se observar uma redução da capacidade armazenada de energia, apesar das oscilações do PIB brasileiro.

Figura 2 – Dados retirados do banco mundial e ONS.
A energia armazenada do Brasil, no mês de junho de 2021, é equivalente ao encontrado nos anos de 2000 e 2001 para o mesmo mês. A demanda energética por outro lado se encontra em patamares muito superiores, conforme a Figura 3. O gráfico abaixo representa a demanda média em todo o país, pode-se observar que ela é crescente ao longo dos anos e de certa forma acompanha o PIB brasileiro.

Figura 3 – Dados retirados do banco mundial e ONS.
A situação atual, portanto, é de uma capacidade armazenada minguante e uma demanda energética crescente. Vale observar que existe uma relação proporcional entre o PIB e o consumo de energia, pois a quanto maior as atividades produtivas no Brasil, maior é a demanda energética. O agravante é que no mês de junho se encontra logo no início das temporadas de meses secos no Brasil, período em que a quantidade de chuvas é abaixo do normal, este é o motivo do alarde.
A ONS (Operador Nacional do Sistema) informou em boletim no dia 07 de julho que informou as recomendações para as autoridades governamentais e que esta as acatou. Dentre elas estão a recomendação de compra de energia importada da Argentina e Uruguai, despache de usinas térmicas e redução do volume morto dos reservatórios. Apesar do risco eminente, segundo a empresa, com a adoção das medidas propostas dificilmente precisará ser implementado um racionamento em 2021, similar ao observado no início do século.
O complemento dos esforços para reduzir o risco hídrico se traduzem na medida provisória 1055/2, que institui regras excepcionais para o uso dos recursos hídricos, entre elas a criação do CREG, Câmara de regras excepcionais para gestão hidrelétrica. A ideia proposta é de que o CREG supervisione e homologue as deliberações do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), incluindo decisões no que se refere ao nível mínimo de água que deve ser contido em uma barragem, para que seja liberada a produção de energia.